quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Sobre Fé - Fátima


Fomos ao santuário de Fátima e lá encontramos o famoso lugar onde fieis católicos do mundo todo vão fazer sua peregrinação de joelhos em pagamento de promessas.
Fátima foi um lugar que me ensinou muito e me provocou grandes reflexões. Não sou católica, apesar de ter estudado a vida toda em colégio de freiras, de ter uma família católica em sua maioria e de, quando criança, ter tido vontade de ser freira. Com o passar dos anos fui entendendo que religião não passa de uma instituição organizada pelo homem na busca de um controle do sagrado e da fé em outros homens. Bom, mas não é sobre isso que quero falar neste post (não vamos polemizar o negócio aqui!). Vamos falar de Fátima e de um peregrino em específico.


Não andei muito pela cidade, só passamos uma tarde por lá. Portanto vou me ater a região do santuário. Tenho a sensação de que a cidade toda gira em torno deste santuário e do turismo religioso. Senti que o espaço tem uma arquitetura bem limpa. O que quero dizer com arquitetura limpa? Os tons são claros, muito branco, cinza claro e bege, e tem bastante concreto, o ar histórico que pude sentir nas outras cidades não existia lá. Fomos ao templo de Judas, um lugar grandioso, com outro tipo de "ostentação", o excesso de ouro que encontramos nas igrejas barrocas de Portugal não existia no templo, mas a largura e o tamanho das portas, junto ao tamanho do templo, me fizeram pensar neste outro tipo de "ostentação".




Quando chegamos no lugar onde os fieis fazem sua travessia de joelhos (uma especie de passarela de mármore liso), me deparei com um senhor que deveria ter uns 75/80 anos, ajoelhado em sua peregrinação com sua bengalinha como apoio. Me vi presa a esse homem, numa torcida quase que interminável para que ele conseguisse terminar seu trajeto. Fiquei impressionada com sua fé, com sua determinação. Me levaram para ver um pedaço do muro de Berlim que tinha lá, fui. Mas não conseguia parar de olhar para o peregrino, mesmo de longe. Sua determinação prendeu minha atenção de tal forma, que nem o pedaço do muro de Berlim teve importância.
Olhava para o senhor e sempre que ele parava para respirar pensava: "respira, você vai conseguir chegar até o final". Quando ele terminou a travessia, minha emoção era tão grande que não conseguia parar de chorar, meu pai me abraçou, senti vontade de dar um abraço no peregrino, mas quando o procurei não o vi mais.

Depois de um tempo fiquei me perguntando porque esse peregrino me emocionou tanto (e ainda me emociona), não sou católica, nem o conhecia... Cheguei a conclusão de que mesmo não possuindo uma religião específica, o performer vive em constante conexão com o sagrado e que essa constante ligação é a grande provocadora da empatia dos afetos. Senti empatia por este senhor, ele (sem saber) estava fazendo a sua performance. Ele estava vivendo seu ritual. Sou muito grata a este peregrino, que me ensinou o poder da determinação.



Se você quiser ver mais sobre essa experiência e só clicar na imagem para ver o vídeo lá no nosso canal.